Ao observar meu espaço doméstico tomando por base os conceitos de Hertzberger, é possível afirmar que ele pode ser analisado a partir de diferentes concepções. Dentre elas, pode-se citar as demarcações territoriais, o intervalo, o zoneamento territorial e o lugar e articulação.
DEMARCAÇÕES TERRITORIAIS
Em uma casa, assim como em um espaço tido como público, há uma separação dos ambientes de acordo com seus níveis de acesso. Esses níveis variam do público ao privado e essas categorias, ainda que não tenham uma grande rigidez em se tratando do ambiente doméstico, são perceptíveis não apenas para os habitantes como também para os visitantes.
Em minha casa, creio que a disposição dos cômodos foi bem articulada para garantir que cada espaço estivesse de acordo com o nível de acesso e privacidade desejados. Tomando por ponto de partida meu quarto, temos um ambiente privado e particular, que é normalmente acessado por mim e ocasionalmente por meus pais. Meu quarto está localizado ao final de um corredor, que dá acesso a um banheiro e mais dois quartos, além de conectá-los à sala de estar. Essa localização creio ser privilegiada no quesito privacidade pois é o cômodo mais distante dos espaços mais "públicos" e coletivos da casa, como a sala de estar, a copa e a cozinha, estando os outros quartos bem próximos do arco que leva à sala.
Meu quarto
Vista do meu quarto para o corredor
INTERVALO
Os ambientes localizados após o corredor são os mais acessíveis a visitas e são perceptivelmente mais "públicos" do que os quartos. Um elemento que funciona como transição entre o espaço mais reservado dos quartos para o espaço mais coletivo das áreas de convivência da casa é o corredor.
Para aqueles visitantes que necessitam, por exemplo, utilizar o banheiro que pode ser acessado através desse corredor, ele permite que o vistitante possa chegar ao banheiro sem invadir a privacidade dos quartos. Além disso, pode ser um ambiente de interação entre quem está nos quartos e quem está fora deles, permitindo que não haja a necessidade dos primeiros saírem dos quartos e nem dos últimos entrarem nesse ambiente mais particular.
Vista para o arco de passagem da sala de estar para o corredor e entrada de um dos quartos
Vista do primeiro quarto para o corredor e a sala de estar
Nas imagens acima, é possível observar que o corredor permite que os quartos estejam dispostos de uma maneira mais reservada e cria uma divisória entre os ambientes de convivência e os ambientes privados.
ZONEAMENTO TERRITORIAL
Para este tópico, trago novamente a imagem do meu quarto para apontar elementos que evidenciam a ideia de Hertzberger de que o ambiente, seu ordenamento e sua manutenção estão intimamente ligados a quem está responsável por ele. No restante da casa, a decoração, a disposição dos móveis e a organização são determinadas por meus pais e, sobretudo, por minha mãe. No entanto, o ambiente individual do meu quarto me permite optar pela forma que acho mais adequada de decorá-lo e organizá-lo.
É possível observar na imagem objetos decorativos nas prateleiras, sobretudo brinquedos que coleciono e decidi utilizar como decoração. Ademais, a disposição dos itens na escrivaninha é determinada pela minha organização e pelo uso que faço desses objetos.
Apesar dessa oportunidade de modificar o ambiente, ainda há fatores limitadores. O primeiro é a existência de um limite físico da liberdade que disponho para fazer alterações, que é a presença de móveis planejados e fixos às paredes, sendo excessões apenas minha cama e a cômoda, que podem ser movidos. O outro é uma restrição à uma liberdade total de dispor os objetos e a mobília à minha maneira, posto que ainda há uma certa influência dos meus pais no ambiente que, prezando pela organização, por vezes fazem modificações ou pedem que eu disponha os objetos de uma determinada forma.
LUGAR E ARTICULAÇÃO
Por último, acredito ser válido tratar do aspecto organizacional da casa. Sendo Hertzberger, ao projetar um ambiente, a primeira consideração a ser feita é a que propósitos o ambiente servirá e não servirá. Assim, é possível determinar o tamanho e as dimensões do espaço levando em consideração o grau de proximidade e afastamento das pessoas que o utilizarão.
Tomando esse conceito por base, pude observar que os espaços foram, em sua maioria, projetados de acordo com seu uso. Alguns exemplos disso são o corredor já citado, que não é nem pequeno ao ponto de todas as portas ficarem muito próximas e nem longo ao ponto de ser exaustivo percorrê-lo. Outro exemplo, que é também citado pelo autor, é a cozinha, que é espaçosa, permitindo a circulação de mais de uma pessoa ao mesmo tempo, mas que não é tão grande que possui longas distâncias entre os balcões, os armários e os eletrodomésticos.
Por fim, cito meu quarto e os outros como exemplo. Os quartos possuem tamanhos aproximados, tendo dimensões confortáveis e adequadas para cada uso. No meu caso, por exemplo, necessito de uma escrivaninha para estudos e para trabalho que seja mais afastada das áreas de convivência e de circulação e de espaços para armazenar meus livros, materiais de estudo e trabalho e outros objetos. Ambas as necessidades são atendidas pela dimensão do quarto e ainda há um bom espaço para circulação.
Desse modo, vejo que o conceito de Hertzberger de uma coerência entre o tamanho do espaço e seu uso é aplicável a minha casa e seus cômodos, não havendo desconforto ou problemas relativos às dimensões.
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